Agricultores recorrem à bancada ruralista
Junji
diz que ineficiência e burocracia das autoridades desprezam emergências
fitossanitárias, colocando safras inteiras de algodão e frutas, entre
outras culturas, sob o risco de perda total
Há
menos de 50 dias do início da safra do algodão, os produtores não
dispõem de qualquer alternativa eficiente para controle de percevejos e
bicudo-do-algodoeiro. Helicoverpa armigera é o nome de outra praga
exótica ao Brasil, extremamente agressiva e sem opções eficazes de
combate liberadas pelos órgãos públicos, que dizimou lavouras de soja,
milho, algodão e feijão, começando pela Bahia e alastrando-se para todo
território brasileiro. A situação se repete na fruticultura que amarga a
lentidão no processo de registro, no País, de um sem-número de
defensivos agrícolas de última geração, aos quais os fruticultores não
têm acesso, embora sejam os únicos aceitos nos mercados externos mais
importantes, principalmente por representarem risco menor ao organismo
humano e ao meio ambiente.
“Os
fatos que massacram o agronegócio, principal sustentáculo da economia
nacional, escancaram o colapso da política fitossanitária no Brasil,
evidenciando o desleixo governamental com a atividade agrícola”,
vociferou o deputado federal Junji Abe (PSD-SP). Nas duas últimas
reuniões da FPA – Frente Parlamentar da Agropecuária, nos dias 06 e 13
de agosto último, ele e os demais integrantes do colegiado ouviram
detalhes do drama que se alastra no campo, colocando em xeque toneladas
de produtos que abastecem o mercado interno e também se destinam à
exportação.
Presidente
da Pró-Horti – Frente Parlamentar Mista em Defesa do Segmento de
Hortifrutiflorigranjeiros, Junji está inconformado com o descaso de
órgãos governamentais em relação à gravidade do problema. “Se
cotonicultores, sojicultores e grandes fruticultores estão em desespero
pela falta de produtos de controle fitossanitário, imagine o que se
passa nas pequenas lavouras onde nem a informação chega pela ausência de
assistência técnica e extensão rural?”
Na
terça-feira (13/08), o representante da CNA – Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil, Luiz Eduardo, chamou a atenção dos
parlamentares para os severos prejuízos enfrentados pela fruticultura
por conta da escassez de defensivos agrícolas autorizados e liberados
pelo Mapa – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Segundo
Junji, os custos da burocracia e da ineficiência do processo recaem no
bolso do produtor. Ele rememorou o caso da ferrugem asiática que dizimou plantações de soja.
Dimensionando
a importância da fruticultura para a economia brasileira, Junji lembrou
que se trata de uma produção anual da ordem de 40 milhões de toneladas
cultivadas em 2,2 milhões de hectares. O Brasil ocupa o terceiro lugar
no ranking mundial de produtores de frutas, atrás apenas da China e da
Índia. Dados do Ibraf – Instituto Brasileiro de Frutas mostram que,
desde 1993, foram registradas 132 novas substâncias químicas aplicáveis à
agricultura em todo o mundo. No Brasil, apenas 20 moléculas foram
catalogadas no mesmo período.
Essa
situação tira competitividade da fruticultura por dois motivos básicos,
como apontou Junji. Primeiro, porque as pestes agrícolas criam
resistência rapidamente aos defensivos – obrigando a frequente
substituição. Segundo, porque, se não forem cultivados com moléculas
ativas eficazes, frutas e vegetais perdem em qualidade e tempo de vida
útil.
Cotonicultores
Na
terça-feira última (13/08), os parlamentares da FPA – Frente
Parlamentar da Agropecuária haviam recebido outro relatório assustador,
vindo do diretor executivo da Abrapa – Associação Nacional dos
Produtores de Algodão, Márcio Portocarrero. Desde junho último, os
cotonicultores estão proibidos de utilizar inseticidas à base de
neonicotinoides, sob a alegação das autoridades de que as substâncias
prejudicam a população de abelhas. Foram exatamente estes produtos
banidos os indicados pelo Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis como substitutos de dois outros muito
usados no mundo todo, o Endossulfan e o Metamidofós, que tiveram uso
suprimido pelo órgão em 2011, sem qualquer justificativa plausível.
“Resultado:
há menos de 50 dias do inicio da safra, estamos sem nenhuma alternativa
eficiente para controle de percevejos e bicudo-do-algodoeiro”,
protestou Portocarrero, esclarecendo que, recentemente, a União Europeia
baniu o uso dos inseticidas neonicotinoides em todo o continente.
Porém, no mesmo decreto de supressão, foram oferecidos aos agricultores
europeus mais de cinco produtos novos, mais eficientes e com preço
compatível para substituir os neonicotinoides. De acordo com o deputado
federal Junji Abe, “é uma pequena amostra do respeito que o agronegócio
tem em outras partes do planeta e do quanto o Brasil está em débito com a
atividade”.
Outro
ponto evidenciado na exposição do executivo da Abrapa foi o caso da
Helicoverpa armigera, praga exótica ao Brasil, extremamente agressiva
que dizimou as lavouras de soja, milho, algodão e feijão, começando pela
Bahia e se alastrou por todo o territorio nacional. Não existem
inseticidas eficientes registrados no País para combater o problema. Uma
das poucas alternativas de controle desta lagarta é um inseticida
chamado Benzoato de Amamectina.
Trata-se
de um produto registrado em mais de 70 países, inclusive EUA, Japão,
Austrália e nações da Europa. No Brasil, o fabricante teve o registro
negado pela Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, há três
anos. Para completar, observou Junji, “autoridades governamentais vivem
entrando em choque”. O Mapa concedeu autorização de uso emergencial do
inseticida. Ocorre que produtores da Bahia importaram o composto, mas
tiveram a carga apreendida por causa de uma ação do Ministério Público
Federal daquele estado, que invocava a situação irregular da substância,
apesar da condição de emergência fitossanitária, reconhecida pelo
Ministério da Agricultura.
Diante
do cenário, os cotonicultores recorreram à FPA para reivindicar três
medidas. A primeira é que seja estendida a permissão de uso dos
neonicotinoides por, pelo menos, mais uma safra, até que o Ibama conclua
a revisão dos produtos atualmente registrados. A segunda é que a
presidente Dilma Rousseff (PT) assine o decreto que regulamenta
procedimentos para emergência fitossanitária no Brasil, evitando
transtornos como o ocorrido na Bahia. Por fim, eles cobram o novo
Decreto de Regulamentação da Lei de Registro de Agrotóxicos, que
possibilitará destravar o sistema atual.
Considerando
justas as reivindicações e preocupado em acelerar as soluções, Junji e
outros parlamentares da Capadr – Comissão de Agricultura, Pecuária,
Abastecimento e Desenvolvimento Rural tiveram aprovado no colegiado o
requerimento (REQ 404/2013). O documento pede que sejam convidados os ministros
da Casa Civil, Gleisi Hoffmann; da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, Antônio Andrade; do Meio Ambiente, Izabella Teixeira; e
da Saúde, Alexandre Padilha, para debater, em audiência pública, os
prejuízos suportados pelos produtores de grãos e fibras decorrentes da
ineficiência do Sistema Nacional de Registro de Defensivos Agrícolas no
Brasil. O debate ainda não foi agendado.
AI Deputado Junji Abe
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